Pedro C Sirotsky
7 min readMay 16, 2019

O primeiro ano do Barrah, o investimento na NeuraStream e a natureza imprevisível das conexões

Esse é o poder das conexões: elas são imprevisíveis, mas poderosas. Quando colocamos quatro empreendedores para dividir a mesma mesa de trabalho, compartilhamos o escritório com uma startup ou ouvimos um novo pitch, não sabemos o que esperar. Naquele momento, forma-se uma conexão em um algum ponto do espaço.

Dela, podem surgir um e-mail, um aperto de mão e um até logo. Ou talvez uma parceria, um investimento ou uma sacada que transforme por completo a história de um negócio, ou de uma pessoa que, por sua vez, também pode transformar a história desse negócio. Ou então — imagine só! — que os dois ocorram simultaneamente, e a partir dessa conexão, surja ali um novo negócio. Difícil de explicar, mais difícil ainda de entender, mas é isso mesmo. Para quem já viu conexões como essas acontecerem, esse é o mecanismo com que se manifestam. Para quem não viu, talvez essa seja a barreira de entrada.

No Barrah, nós passamos o último ano observando de perto como cada um desses pontos. em branco no espaço. se comportam — e também criando novos vácuos para que as peças do ecossistema pudessem se conectar. Essas conexões depois de formadas podem até parecer redes neurais perfeitas, obra do acaso, da sorte ou da coincidência, mas na verdade, prosperam das decisões que tomamos a cada minuto.

Começando pelo final

Na última sexta-feira, antes do Natal chegar, eu saia do escritório do Barrah feliz. Mesmo depois de uma reunião que durou cinco horas. Naquela tarde nós oficializamos o investimento na NeuraStream, do Ivan e do Rafa, dois empreendedores que estão usando inteligência artificial para ajudar as empresas a se conectarem com as pessoas certas, de um modo mais eficiente do que o melhor headhunter do mundo.

Refazendo os passos que nos levaram até aquela mesa de negociação, consigo enxergar uma série de combinações, encontros e correlações que poderiam muito bem ser tema de uma história em quadrinhos.

Tudo começou no Réveillon de 2016.

Ajudar, mas ver o impacto de perto

Era 31 de dezembro e aquele não tinha sido um ano produtivo para mim. Estava em busca de algo que me fizesse levantar da cama pilhado para realizar o que quer que fosse — algo que me colocasse em movimento. Eu queria, de fato, ajudar as pessoas, mas não tinha certeza do que poderia ser o próximo passo.

Naquela manhã, o jardineiro que trabalha na minha casa me chamou para assistir a alguns vídeos na câmera.

Eram gravações do filho dele, de 10 anos, surfando em Florianópolis. Eu já tinha competido profissionalmente como tenista quando mais novo, gostava muito de surfar e conseguia enxergar se alguém sabia o que estava fazendo em cima de uma prancha. Foi quando conectei os pontos do meu cérebro e tive um insight.

Aquele menino, definitivamente, sabia.

Naquele dia, eu tive um estalo: “Vou ajudar esse menino a deslanchar a carreira dele no surfe. Se eu conseguir oferecer uma estrutura de alimentação, preparo físico e psicológico, ele vai muito longe.”

Comecei a conversar com as pessoas sobre isso!

Minha irmã mais velha que é nutricionista ajudou com a alimentação; já minha irmã mais nova, psicóloga, começou a acompanhá-lo toda semana; meu antigo preparador físico também deu uma força e alguns amigos do Hotel Urbano conseguiram um patrocínio para ele ter estadia de graça nas cidades das competições.

Eu só precisei investir R$ 300 para inscrições nas competições do estado. E nada mais.

Essa ideia me acompanhou durante todo o ano de 2017, até que, em outubro, eu estava assinando um contrato para ter uma sala própria no WeWork em São Paulo.

Aquele era o início do Barrah Investimento.

Empreendendo no mercado de investimento

Não é fácil de explicar. O Barrah não é um fundo de Venture Capital e eu não sou um investidor. Falta um nome que descreva com precisão o que a gente faz, tomara que isso nunca seja encontrado, acho que esse é o segredo. Na ausência de rótulos, preferimos dizer a que viemos: nós ajudamos as pessoas mais desobedientes do mundo com orientação, conexões, capital e tudo o que não estiver ao nosso alcance para ajudá-los. Porque, de outro modo, seria simples demais.

Pessoas inquietas, questionadoras e que perturbam a ordem do mundo. Aquelas que são veículos desorientados causadores de mudanças. Aquelas que são famintas, indignadas e que, sabendo o que é razão, decidem pegar o caminho menos percorrido da insanidade.

Em um ano, investimos em 4 fundos diferentes para aprender com eles. Analisamos juntos os pitches, entendemos as diferentes visões sobre o mesmo negócio, construímos nossa visão e, aos poucos, criamos um jeito próprio de enxergar e fazer investimento.

Quando mais o empreendedor precisar, ele tem que ter um número a quem ligar. E nós queremos estar no contato de emergência.

Nesse processo, passei meses conversando com o Edson Rigonatti, da Astella Investimentos, sobre o que é ser um investidor. Toda quarta, tínhamos uma conversa marcada sobre Máquina de Vendas, Talentos, Produto… Se você conhece o Edson, deve imaginar a intensidade das conversas. Era um link atrás do outro, centenas de páginas para ler, cases para analisar, só faltava um exame no final.

Depois de três meses, já compreendia a teoria. Precisava da prática.

Comecei a acompanhar sessões de pitch, ouvir os questionamentos e treinar o olhar para encontrar atrás dos 15, 30 — e até 60 slides! — um empreendedor ou uma empreendedora com aquela inquietação de quem, de fato, pode mudar o mundo.

Cada pitch, era uma conexão. Algumas terminavam no último slide, outras 18 viraram investimento.

Em uma dessas sessões, o Edson me apresentou a dois malucos que estavam criando algo novo, ainda sem modelo definido, mas que pretendia ajudar os empreendedores inquietos: Luiz Guilherme Manzano e Alexandre Mello, o Manza e o Xan. Eles estão à frente do Big Bets, uma iniciativa que conecta, educa e orienta empreendedores early stage ao ecossistema de investimento para desbloquear as decisões mais difíceis do início de um negócio.

Quando ouvi sobre a ideia, ainda sem modelo definido, não tive dúvidas:

As decisões que tomamos hoje têm consequências sem precedentes no futuro. Só não sabemos disso ainda.

Em um dado momento, os dois me apresentaram ao Leandro Alvares, cofundador da Creditas. Ele tinha acabado de sair do negócio e precisava de um apoio que ele não sabia exatamente qual para desenvolver uma nova ideia. Oferecemos nosso escritório no WeWork e começamos a descobrir juntos que apoio seria esse — e ele se juntou à nossa mesa.

Do Big Bets nasceu também nosso contato com a Neurastream. Na nossa primeira reunião, o Leandro passava pelo corredor. Ele estava, justamente, em busca do primeiro funcionário para o time. Em alguns minutos, os meninos fizeram uma varredura e entregaram para ele uma planilha de Excel com vários nomes que se encaixavam nas especificações técnicas da vaga. E aquele era só o MVP. Foi nesse momento também que junto com o Leandro começamos a entender que tipo de apoio era esse que ele precisava, de alguma maneira ele também observou quais eram os desafios da Neurastream

O grande desafio da NeuraStream, na época, era a precificação do produto.

Lembrei na hora de duas coisas:

1) Uma planilha que organizo com todos os links que leio — e que comecei a popular desde as conversas com o Edson. Os conteúdos são filtrados por tema, blog e modelo de negócio. Em dois minutos, tinha 6 artigos na mão sobre precificação para SaaS que poderiam ajudá-los nesse desafio.

2) As conversas que tive com o Diego Gomes, fundador da Rock Content e especialista em vendas B2B.

Os meses se passaram e os dois empreendedores continuaram na busca pelos investidores que formariam a primeira rodada. Mas eles gostaram tanto das nossas interações que, mesmo depois de apenas duas conversas, nos convidaram a participar do book de investidores.

As conexões do ano inteiro nos levaram, mais uma vez, de volta àquela mesa, na reunião que durou cinco horas.

Em meio à conversa, vejo o Leandro passando mais uma vez pelo corredor.

Ele já conhecia os empreendedores e tinha interesse na ideia deles. Eles, por outro lado, precisavam de alguém que entendesse de Tecnologia para ajudar nas decisões estratégicas. No final daquele dia, o Leandro também entrou na rodada como investidor e o Diego Gomes também — duas lacunas preenchidas (produto e vendas)

Fico pensando como as conexões são mesmo imprevisíveis: se não fosse o Edson me apresentar ao Manza e ao Xan, que me apresentaram ao Leandro, que encontrou o Ivan e o Rafa no corredor. Se também não tivesse sido o investimento na Meetime — empresa em que conheci o Diego que entrou também como investidor…E talvez a história da NeuraStream tomasse um rumo diferente.

A partir de janeiro, o Ivan e o Rafa vão passar a trabalhar no nosso escritório, dividindo a mesma mesa do Leandro e de mais três empreendedores que estão com a gente.

Uma conexão levou à outra que puxou outra…E nos trouxe até aqui.

Steve Jobs nos dizia que só é possível conectar os pontos olhando para trás. Quando olho no retrovisor o que foi esse primeiro ano do Barrah, sintetizado na história da NeuraStream, consigo ligar os pontos, um a um.

Nenhuma conexão que fizemos foi planejada ou ensaiada, mas todas foram provocadas. Quando aproximamos pessoas muito boas — que podem conversar, trabalhar ou empreender juntas — a mágica acontece.

Em 2019, queremos dar um passo além. Queremos agora conectar os pontos para frente. Se sabemos como cada conexão opera — em corredores, mesas de trabalho e sessões de pitch — vamos abrir caminho para que aconteçam. Disseminar ideias e unir pessoas para vermos novas conexões criadas pelo ecossistema que já existe ao redor do Barrah. São 4 fundos de investimento, 6 empreendedores dividindo a mesma sala e 18 empresas investidas diretas que podem trocar, aprender e crescer juntas.

Delas, não sabemos ao certo que histórias podem surgir. Talvez sejam novos negócios, parcerias e sociedades. Ou pode ser algo que mude radicalmente o mundo como conhecemos.

Fico torcendo pelos dois.