Pedro C Sirotsky
2 min readApr 15, 2019

Timelessismoney?

Atravesso a cidade correndo para o aeroporto. O trânsito é calculado em tempo perdido. O Waze se transforma em Waste. Preciso chegar a tempo do check-in e falta menos de uma hora para o voo. Podia ter feito antes pelo app, mas não deu tempo. Quando chego, a pressa dá lugar à espera. Agora sim posso avisar todo mundo que, assim que eu pousar e tiver um tempinho, vou responder com calma cada pendência. Tamanho foi o medo do atraso que agora preciso aguardar por três horas. Daria tempo de responder todos os e-mails, zerar as notificações, fazer alguns calls – e ainda tomar um café. No tempo de um respiro de alívio, sentado na cadeira do saguão, começo a pensar sobre isso.

Correria. Essa é a palavra que preencheu, nos últimos tempos, minha resposta para quem me pergunta se está tudo bem.

“Tudo bem?”

“Tudo certo, correria, depois falamos melhor. Agora não dá tempo.”

“Espera, rapidinho. Só vou atender o telefone, ok?”

  • Alô, tudo certo? Posso te ligar depois? Estou ferrado agora, está foda essa semana, estou sem tempo, é urgente? Já que não é, nos falamos depois.

Então, se fosse urgente, abrir um espaço no tempo para encaixá-lo? Se na agenda só cabe o urgente, para onde vai o resto?

Quando estamos em uma reunião, pegamos nosso telefone, olhamos o WhatsApp e respondemos: “Agora não dá, estou em reunião.”

Assim passou o dia e não deu tempo de fazer tudo. Passou o mês e não deu tempo de ficar com a famíia. Passou o ano e não deu tempo de fazer aquela viagem ou aquele curso que planejava há tempos. Assim também passou a vida e deu saudade. Saudade daqueles velhos tempos em que nós fazíamos as coisas no nosso tempo. Agora já não dá. Estou mais velho, não perco tempo.

No tempo dessa reflexão, vou e volto para o mesmo aeroporto. O espaço de uma semana percorri. Talvez esse fim de semana, eu consiga recuperar o tempo perdido.

Mas e hoje, faço o quê com o tempo que ganhei?